Observatório de Educação Escolar Indígena

O projeto dedica-se a uma reflexão sobre a educação escolar indígena, abordando a formação de professores, as políticas públicas e a gestão das escolas indígenas em níveis local, municipal, estadual e federal, e as práticas e os cotidianos escolares em comunidades e aldeias indígenas, por meio de pesquisas de campo que acompanham as experiências, os debates e as definições de cada comunidade escolar pesquisada (Asurini do Koatinemo, Xikrin do Bacajá, Arara do Laranjal, Baniwa do Içana, Manchineri de Xapuri e Tenharim de Humaitá). A seleção dos povos e das regiões pesquisadas se deu tanto pela experiência de décadas dos professores do PPGAS-UFSCar envolvidos no projeto, especificamente as regiões de Altamira/PA e Humaitá/AM, assim como pela proveniência dos pesquisadores indígenas estudantes da graduação na UFSCar, um Manchineri do Acre e um Baniwa do Rio Negro, que contribuirão à equipe estudando em suas regiões. Esta diversidade regional nos parece muito produtiva, tendo-se em vista que reune realidades de maior ou menor profundidade histórica da escolarização indígena, e nas quais os povos indígenas mantêm relações muito distintas com a escola: em Altamira, o contato e a escolarização recentes fazem conviver uma valorização dos indígenas da escola com uma realidade na qual a escola não se faz efetivamente diferenciada, ou indígena; na outra ponta, o Alto Rio Negro é conhecido como a região modelo da educação escolar indígena, com inovações reconhecidas. No meio termo, a região de Humaitá tem uma profundidade histórica maior que Altamira, mas uma realidade atual talvez mais próxima desta, enquanto o Acre, pioneiro em experiências inovadoras de escolas indígenas e formação de professores indígenas, nem sempre tem podido realizar esta especificidade nas suas escolas, como é o caso que propomos estudar. Assim, pretendemos nos beneficiar desta diversidade para compor um cenário mais completo ao explorar diversas experiências escolares na Amazônia indígena brasileira.
A educação escolar indígena, embora bastante pesquisada nos últimos tempos, tem sido pouco abordada de um modo que leve em consideração o ponto de vista indígena. O projeto pretende, a partir da comparação e da pesquisa intensiva em algumas comunidades e escolas indígenas, e em experiências de formação de professores indígenas e de gestores, assim como na participação dos indígenas nesta gestão, explicitar a diversidade de estratégias e expectativas indígenas em relação à escolarização no Brasil hoje, e a diversidade de experiências escolares que disso decorre. Tendo em vista que, como política pública nacional, a educação escolar indígena tem sofrido uma considerável homogenização, entende-se que este debruçar em casos específicos possa contribuir para recuperar os princípios da educação escolar indígena específica e diferenciada, ou seja, a sua adequação aos desejos, desígnios e necessidades de cada povo indígena. Pretende-se ainda contribuir com o mapeamento das diversas experiências escolares indígenas, e com uma melhor compreensão dos processos a partir dos quais essa diversidade se constitui.
Realizar esta pesquisa com o método etnográfico permite uma abordagem nova da escola indígena. A não ser excepcionalmente, etnografias com populações indígenas não focam as escolas – ou apresentam a existência da escola em um levantamento geral das condições de pesquisa, esquecendo-se dela e da parte que toma no cotidiano das famílias e das crianças indígenas e de seu modo de ser indígena contemporâneo no decorrer do trabalho, ou realizam o exato contrário, focando exclusivamente a escola, esquecendo-se de que os alunos e professores desta escola têm diversas outras atividades fora dela, e que os modos de experimentar a infância, de aprender, de ensinar, que têm lugar fora da escola são relevantes e reveladores para a experiência escolar indígena. Assim, pretende-se fazer comunicar os diversos aspectos que envolvem estes processos de escolarização.

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